terça-feira, 9 de setembro de 2014

Depressão

Todos os dias, quando acordo, vejo as mesmas coisas; os mesmos objetos sobre a prateleira; os mesmos livros, as mesmas fotos, os mesmos lápis dentro do mesmo copo.

Levanto da mesma cama, do mesmo travesseiro. Dou um passo no mesmo chão, nos mesmos tacos arrumados de forma desigual.

Saio do mesmo quarto com as mesmas paredes pintadas com a mesma cor desbotada e desanimada; passo pelo mesmo corredor com o mesmo piso frio e os mesmos quadros velhos na mesma parede também desbotada.

Chego na mesma cozinha; levo meu olhar cansado à mesma geladeira branca que está no final da mesma sequência de armários aparafusados na mesma parede branca, que agora exibe as mesmas manchas de gordura.

Ando com os mesmos passos arritmados e cansados por não fazer nada; chego na frente daquela mesma geladeira, elevo meus braços (que desde o nascimento são os mesmos) e abro a mesma porta da geladeira que faz os mesmos barulhos ranjedores.

Dentro têm as mesmas comidas; os mesmos queijos, os mesmos molhos, as mesmas carnes, as mesmas bebidas; os mesmos gostos, os mesmos cheiros e a mesma falta de apetite.

Fecho a mesma geladeira com a mesma dificuldade e esforço que usei para abri-la. Volto pelo mesmo caminho que fui para a mesma cozinha, passando pelo mesmo corredor, pelo mesmo quarto e, finalmente, à mesma cama em que eu estava.

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